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segunda-feira, 9 de maio de 2011

Campus de Marabá/UFPA vai à luta

SEMINÁRIO: Expansão do Capital, Movimento Social e Luta Contra-Hegemônica na Amazônia

O curso de especialização em "Educação do Campo, Agroecologia e Questão Agrária na Amazônia" do Campus de Marabá / UFPA terá início no próximo dia 10 de maio (3a feira), às 08:00h, com um seminário inaugural no auditório do Campus I da UFPA em Marabá.
O seminário é aberto a todos os interessados e tratará do tema geral do curso, enfocando dois tópicos principais:
(i) a expansão do capital na Amazônia e suas consequências para a questão agrária, questão ambiental e produção de conhecimento na região e
(ii) as lutas de resistência camponesa e as pespectivas de construção de projetos alternativos de desenvolvimento.
A programação do seminário será:
08:00h - Mesa de abertura
08:30h - Debate 1 - A Expansão do Capital na Amazônia e suas Consequências
Expositor: Prof. Ariovaldo Umbelino de Oliveira (Geografia – USP)
14:00h - Debate 2 - Lutas de Resistência Camponesa e a Construção de um Projeto Contra-Hegemônico
Expositores: Via Campesina da Pan-Amazônia - representantes do Brasil, Bolívia e Equador.
Fonte: UFPA/Marabá – Coordenação do Curso

Amim Zalouth, a poesia do ontem

Fantasmas

Fantasma de mim mesmo,
vagueio lento pelas ruas de cimento e pedra
buscando a cada passo,
na minha volta, a toda hora,
o que, se sei, o tempo ido levou embora.

Tomás Gralhada, Procópio, Hugo Piaba, Cametá.
Cururú, Ambrósio, Sinhá, Zeni, Anita Guará,
Pedro, Manduca Maravilha, Pedro Muriçoca,
Nicandro, Margarida, Pacheco, Honorino, Baltazar.
do Rádio, Dona Santa, Frei Gil, Bento Barbeiro, Herundino,
Joaquim Surdo, Dona Naza, Ivan Ribeiro, Aldo Maranhão,
João Rocha, Dr. Amadeu, Benedito Caolho, Pranchão,
Maneco, Taracanga, Antônia Violão...
Antônio Farias, Zacarias...

Buscando a cada passo, a toda hora na minha volta,
O que eu sei: o tempo ido levou embora...

Casa Andrade, Trianon, Santa Luzia,
Canto Verde, Xandú, Onça Pintada,
Cine Marrocos, Marabá Hotel, Doces da Delfina.
Alto do Bode, Pensão da Binoca.
Rua da Usina... Canela Fina...

À minha volta o que o tempo levou embora...

João Anastácio, Irmãos Miranda, Casa Vale, Rio Tocantins.
Padre Antônio, Natal, São José de Ribamar, Vale do Tocantins.

Que o tempo ido levou embora.
Levou embora.
17.03.02




(10.09.80)

Retratos da vida
Marabá, Rua 5 de Abril,
612 e 618, casas geminadas
de frente para o rio.
Ambas com 3 dígitos
comcasasque se multiplicavam.
Numa o dobro de 6,
noutra o triplo de 6.
Dessa maneira convivi
com o dobro e o tripo das portas
refletindo dentro de mim.
Na 612, à frente, uma porta e duas janelas.
Na 618, tres portas e nas laterais 6 janelas.
Palco de meus primeiros passos:
infantis, claudicantes. Juvenis, arrogantes.
Assim, as emoções
foram dobradas, multiplicadas.
Na 612, a morada era uma casa simples.
Um breve corredor, sala, alcova, três quartos.
Na cozinha, um fogão a lenha, geladeira a querosene.
Móveis, os necessários, básicos,
distribuídos criteriosamente nos aposentos
onde, soberana, minha mãe
todos os dias supervisionava
a arrumação, a limpeza,
e com mão de ferro conduzia
os afazeres domésticos
e os passos de cada um.
Na 618,o comércio.
Dois balcões, duas balanças,
pesos escalonados, metros,
produtos os mais diversos,
cadeiras de vime à porta
onde meu pai, altivo,
coordenava as vendas,
recebia amigos com café
e “dois dedos de prosa”.

Por trás do balcão principal,
altas e simétricas prateleiras
sobrecarregadas de peças de tecido,
perfumes baratos, envelopes, cadernos,
espelhos, lápis, canetas, vidros de bombons,
latas de pólvora, garrafas de bebidas,
agulhas, facões,
linhas de cozer e pescar... Anzóis.
Linhas que me enredaram.
Anzóis que para sempre
minha alma fisgaram.

Havia um espaço mínimo
entre as prateleiras e parede
onde apenas eu,
menino ainda e esguio,
passava e me transformava
ora num herói,
ora num gigante,
ora num cowboy, e,
dando asas à fantasia,
cultivava minhas ilusões,
minhas quimeras.
Era o meu refúgio, o meu esconderijo.
Nele também cultivei e provei
os meus primeiros e inocentes vícios.
Um litro de Vermouth Cinzano,
um litro de Cinzano,
um litro de Martini Bianco,
surrupiados da frente e escondidos
atrás das prateleiras,
e que eu, sorrateiro,
sorvia diariamente,
uma dose apenas
e alternando os sabores,
num cálice exclusivo
que o tempo levou ou quebrou.
Dois metros atrás,
aquém das prateleiras e parede,
o escritório de meu pai, onde,
numa escrivaninha com porta de enrolar
demoravam arrumadas em blocos,
cartas comerciais, carimbos,
promissórias a receber,
notas fiscais, livros contábeis e
dois vidros de goma arábica.
No depósito,
após o escritório e empilhadas,
pesadas caixas de sabão em barra,
sacas de café em grão, açúcar e sal,
caixas de pregos,
latas de querozene e manteiga,
tudo o que se poderia imaginar
encontrar num armazém.
Saindo dos limites internos da casa e loja,
descortinava-se um enorme quintal,
dividido em tres etapas por portões e cercas,
a última limitando com a rua de trás.
Era um imenso pomar !
Manga maça sem fiapos,
goiabeiras, abacaxizeiros,
laranjeiras, coqueiros,
manga de “mesa”, manga rosa, manga de “cheiro”,
limeiras e uma sapotilheira
que as “pipiras” vinham,
ávidas e barulhentas, bicar
todas as manhãs e finais das tardes.
Eram frutos doces, como eu imaginava
seria sempre a vida.
Havia também um de ginja,
cajueiros, limoeiros, taperebás do sertão,
pimenteiras, um enorme de carambola
e um tamarineiro sempre carregado,
galhos quase tocando o chão.
Eram frutos azêdos,
travosos, ardentes, ácidos
como a me informar
não ser a vida apenas doçura
como daquelas outras frutas em volta.
E estava tudo ali,
na minha frente,
diante dos meus olhos,
ao redor e ao alcance da mão.
A casa arrumada, pequena, aconchegante.
O comércio onde tudo era pesado – menos ou mais leve,
medido – de menor ou maior tamanho,
vendido – mais barato ou de maior valor.
O quintal por etapas,
frutos nos galhos ainda verdes,
outros no ponto, maduros,
frutos estragados no chão.
Era um retrato da vida,
com pesos, medidas, preços,
ora leves, menores, baratos,
outras vezes pesados, maiores, caros.
Com seus limites e sabores:
Doces, ardentes, ácidos, travosos, azêdos.
Frutos da hora e da estação.
Eu estava no meio de tudo aquilo
e não alcancei a lição.                                              (14.01.2002)



Superman

Não me peças que hoje
eu te leve a ver fadas
e a acender estrelas
no teu céu particular.

Longe de mim a idéia
de que te adoro
somente por etapas
que meus sentimentos por ti
sejam alternados,
como as quatro fase lunares,
distintas.

Dorme, porque agora
sinto-me lógico e escuro
como habitante único
numa imensa cisterna universal.

Dorme profundo,
porque hoje, às 15:00 horas,
no sentido duplo da vida
fui emboscado
por um estilete
não quero que vejas
rosa rubra derretendo
em meu peito,
sob minha camisa
de brilhante azul metálico.

Dorme profundo,
viaja no cosmo e
sonha com cisnes de bronze
que cantam uma ária de Bach,
porque não quero que saibas
que nos filmes de cowboy
eu também sou o bandido
que invade o saloon
para matar o mocinho,
duela com o xerife
e morre.
  
Não acorda ainda,
porque logo mais às 23:30
irei beijar tua face de anjo,
cobrir tuas mãozinhas de veludo
com o meu olhar
de vigilante espacial,
embora cansado,
sonolento e míope.

Dorme profundo
que amanhã
serei novamente o teu herói.
Serei Superman...
Porque hoje eu estou frágil,
hoje eu sou apenas Clark Kent...