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terça-feira, 19 de abril de 2011

Jorge Luis Ribeiro

Novos microcontos e crônicas do gênio de Inhapim


Ou do barro fazer nada
Havia um tempo de bambuzais azuis e montanhas brancas em que  tesouras de inox afiadas modelavam a bruta parte da existência. A costura fantasiava a pele de uma época minguada de cores. As lâminas verdes de folhas cegas ditavam a primavera, quando tardia. o inverno afiava farpas, pontas, agulhas, gravetos, o inverno feria de abandono o encantamento que era tão bom como a quase tristeza. A hostil beleza da seca azulava os olhos das serras. Mas nada era tão violento como o silêncio e as perspectivas dos sonhos. No verde abrupto, quando chovia, como a antevéspera da culpa, explodia o germinar tão verde que era quase pecado. A beleza dos cios exauria-se do sexo da terra. O futuro era ânsia. Agora, aqui, há o tempo conciliado. Faça dele o que quiser, a liberdade inunda a imutabilidade de qualquer ação. Os motivos se foram, e a terra calçou-se de asfalto e quero multidões para o amparo de minha solidão. Os insanos estão certos, é preciso morrer de paixão e rápido, antes do tédio, que o amor também é mortal. ( Marabá – 05-08-10/18-02-2011)

Ainda
A aurora turva de fumaça a dúvida que não de horizonte se preenche, mas da digital escolha e da entrega. As únicas verdades provisórias ficaram condenadas no instante e lograram o ímpeto de serem breves. Ou talvez não inexistiram como não existiu aquele menino que colecionava o fruto do juá, que fazia bezerros de barro, que perseguia o coito das coisas que tudo adoece de esperança. bem depois viria a saber como os deuses eram frágeis. as águas eram fortes, ainda hoje estão, correndo sempre, conjurando as metáforas da existência por que estarão de princípio porque estiveram depois do fim.  A aurora de agora clama aquele que é e que nunca se libertará de si. (Marabá - 2010/2011)

E daí?
O veraneio vai espichando os horizontes cinzas. Dos meses meeiros de estio um Itacaiúnas magro de costelas de pedras expostas vai correndo milenar sob as sais da lavadeira. Pássaros suburbanos cagam na face das pedras. Do lado do verão sobre o verde do rioum escuro e branco de precipitação. A tarde não sorveu o do chão nem subtraiu a fumaça sob as pontas finas de luz e corredeiras das horas. Tudo subtrai o sol e o cansaço no divagar da exausta segunda-feira. Contudo, vem a noite com seus dedos de oficina. Na água do chuveiro lava-se o suor de mais um dia. (Marabáverão 2008, 2010, 2011)

Como se não fosse comigo
Como se fruta de figo diante da multidão de fatos e pássaros. A hora vem e as planícies não são lisas nem ilesas. Fico distante de mim para não me ver partir e sou eu as pedras que pisas. Mas quando virão os fantasmas para que sejamos úteis de novo com as larvas do medo. O que farás da escuridão das cortinas se o amor não serve. não se sabe que credo ou que gole se bebe e não bastam as lembranças se agora tem o gosto da pedra como se o dia fosse algo que se sorve como espuma. Nunca aquilo que serve. É muito cedo para ser criança. Não sei quem dissolve a dor, senão outro amor, ou outra dor, outra cor sobre a carne exposta ao tempo. Somos assim, sós... E assim partiremos. Todo fim é . Como nascer. (Marabá – 2010/2011)

Se não fossem tantos os silêncios pensados
Queria te dizer que flores floriram e que frutas grávidas breve visitarão o sol, amoras precipitaram-se maduras de desejo ante o beijo tênue dos pássaros. Mas isso tudo é frágil de sentido ante as urgências da casa, e de sua ausência. Enquanto e quando vagueiam dores e indecisões na vastidão do lar eu suborno horas. De que adiantam solilóquios, garantias. De que adianta antecipar o tempo, comprimindo-o, de que adianta adiantar e agendar débitos se os musgos nascem de nossos silêncios e inauguram mais invernos. Ao menos partimos em outra flora, mas dói não nascer onde nos plantamos... é um tempo onde os cultivares do coração estão estranhos e nascendo assim aos milhares, como se transgênicos fossem os sentimentos, se reproduzem em escalas, mas sem a graça germinal das esperas. ((Marabá - 11/03/10 – 01/02/2011)                               

E se...
tirarmos os sentidos das palavras, suor e mais ardor das palavras, mais amargos delas, como elas são? Olhar dizer severo atrás do fino riso e beijo dizer nojo que limpa a saliva doce. E pai dizer aquilo interdito nas linhas do tapa que nunca pára de acabar sem encontrar o rosto, que dói nunca chegar a bater. E mãe dizer a dúvida de acalento em mornidão de repulsa. E a flor dizer mudez de cheiro em morte assim como coisa arrancada do talo. Para nunca mais alguém achar que deus é cor ou estadia de fraquezas últimas. E se a amnésia se lembrar do desejo. E a luz não enxergar o cheiro da noite que convida a nada, porqueescuro onde realmente pode se ver, ou pelo menos olhar reverberado ao olho de quem olha. E isso não é fácil. Todavia, a despeito disso se você não sabe ser, está no caminho certo de encontrar o caminho ainda que não haja estrada alguma. Não que não haja limites para... mas aprender como perdoar a existência pelo que é determinada por esta massa de tempo é difícil, ainda que não seja razoável.
(Marabá – Inhapim – Rio das Ostras – Belém – Marabá - 2010-2011)

Pausa e desejo
Os peitos de Marília acalentariam o mundo com sua luz e néctar branco. É uma maciez e bico em luz de apaziguar a boca e a luta em cor de espuma. Os peitos de Marília podem amainar qualquer sede e voracidade em maternal aconchego. Nos peitos de Marília circunscrevo tesão, medo, sevícia e gozo. Peitos para se mamar o lado oculto de todo leite escuro negado ao desejo. No peito de Marília leite e mel condensam pecado ao ato mais puro de desejo de mamar. Mas não é leite que se nutre dos peitos de Marília, nem maternal desejo, senão a morte que nos casa ao desejo de não tê-los meus... (Marabá – 11/2010)

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